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[da redução do mundo]


Formigueiros, colmeias ou casulos me parecem agora realidades não muito distantes. Desde que o mundo foi reduzido, as comunidades e círculos estão em crescimento diferente, no ritmo da compreensão que damos à grande questão ao redor. Nas ansiedades e preocupações cotidianas parecem estar as grandes filosofias dos nossos dias, e não caminho distante disso. De certa forma, também sou agora parte pulsante da célula, da casa. O descompromisso político assusta, a realidade dos sistemas nos custa, as filosofias insistem. E os esquecidos assistem. Muito tenho me perguntado sobre muito, talvez a questão-chave seja: ‘que sentido tenho eu?’ ou ‘que sentido posso eu ainda ter?’. Não cavo a resposta, resto na pergunta e deixo borbulhar aqui dentro.


Arte tem sido não mais um escape, longe disto, mas libertação, transcendência e conexão. Somos proprietários de nossas próprias cavernas por um tempo. Isso me faz lembrar que minha bisavó sempre dizia: ‘um dia vamos viver em gaiolas’. Alguns carregam suas próprias gaiolas pra fora, conversam com outros. Mas eu não quero estar apenas numa gaiola, faço disso além do abrigo, além da questão: talvez um rabisco ou um textão. Produzo qualquer que seja a coisa que grita cá dentro. E converso e escuto. Agradeço a quem me ouve e tem a me dizer. Nos meus cadernos tenho anotado uma frase sagrada: ‘uso a palavra para compor meus silêncios’, de Manoel de Barros. Achei espiritual.


Desde que o mundo foi reduzido ao meu próprio casulo, tenho me nutrido destas energias, destas proteínas poéticas, tecendo algo. Penso agora no casulo, na lagarta, objeto do meu fascínio, na transformação do sonho. O casulo é também composição dos silêncios, sagrados. Que a profundidade não custe tanto. Que a simplicidade seja poesia. Que a poeira, carne do tempo, deite nos lugares certos, não em meu coração, não em minha mão nem nos meus olhos. São tudo o que tenho.


Publicado em 13 de junho de 2020.

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